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sábado, agosto 15, 2009



Imprevisível.

Gosto muito de planear quando vou fazer amor, mas gosto mais ainda de sexo imprevisível. Aquele que chega sem nos apercebermos, quando os desejos carnais ultrapassam os obstáculos do momento, percebem?

Uma ida à casa de banho em casa dos sogros, em que ele entra e... uau!... não deu para esperar. Ou quando vou experimentar roupa nova numa loja e... uau... ele a quis testar...

Ou ainda quando, no parque de estacionamento, o vestido sobe mais um bocado ao me sentar e ... uau... já não conseguimos parar!

A ultima ocasião foi enquanto esperávamos por visitas, os amigos atrasaram-se, o jantar pronto, mesa posta, música lounge a tocar na sala e nós, na cozinha, a ultimar os aperitivos.... Encostada à bancada, a cortar limão, senti-o a crescer contra as minhas nádegas.

Limitei-me a fechar os olhos e sentir cada um dos toques com que me explorava a pele descoberta...

Levantou-me e sentou-me na bancada, abrindo-me as pernas e pedindo-me:

- Shiuuuuu... não digas, nem faças nada....

E eu não fiz!
Apenas saboreei os lábios dele e um orgasmo estrondoso que terminou com a campainha a tocar!
UAU!

quinta-feira, agosto 06, 2009




Quando as pessoas se amam e querem amar-se, selam um pacto: dormir juntas.


E quando se fala "dormir juntos"o sentido é duplo: significa primeiro amar acordado em plena vigília da carne, mas, depois, na languidez do pós-gozo, deixar os corpos lado a lado, à deriva, dormindo, talvez.


Na verdade, os amantes, quando são amantes mesmo, mesmo enquanto dormem amam-se. Agora leia estes versos de Aragón cantados por Ferat:


"Durante o tempo que você quiser


Nós dormiremos juntos".


E penso.


É um projecto de vida, dormir juntos, continuamente.


A mesma ambiguidade: dormir/amar juntos, dormir/acordar juntos, ou então, dormir/morrer de amor juntos.


Deve ser por causa disto que os franceses chamam ao orgasmo de "pequena morte".


Deve ser por isto que os amantes julgam poder continuar a amar mesmo através da morte, como Inês de Castro e D. Pedro, que foram sepultados um diante do outro, para que no dia do reencontro um seja o primeiro que o outro veja.


Amor: um projecto de vida, um projecto de morte.


Se numa noite dessas o vento da insónia soprar em suas frestas, repare no corpo que dorme despojado ao seu lado.


Ver o outro dormir é assunto de muita responsabilidade.


Mais que ver as águas de um rio represado que gerauma fábrica de sonhos, é ver uma semente na noite pedindo um guardião.


Pode ser banal, mas é isto: amar é ser o guardião do sonho alheio.


Os surrealistas diziam: o poeta enquanto dorme trabalha.


Pois os amantes enquanto dormem, amam-se. Amam-se inconscientemente, quando os seus desejos enlaçam raízes e seivas.


O pé de um toca o pé do outro, a mão espalmada corre sobre o lençol e toca ocorpo alheio e, dormindo, abraçam-se animados.


Quando isto ocorre, pode ter vários significados.


Talvez um tenha lançado um apelo silencioso ao outro:"Ajuda-me a atravessar esse sonho", ou:"Vem, sonae este sonho comigo, é bonito demais".


E o outro, às vezes, sem se mexer, parte em seu socorro.


É que certos sonhos, sobretudo os de quem ama, não cabem num só corpo. Transbordam os poros da noite e pedem cumplicidade.


E, se há um pesadelo, aí um agarra-se ao tronco do outro na crispação do instante, e o corpo do parceiro é bóia na escuridão.


Por isto, no ritual do casamento, quando o sacerdote indaga se os que se amam sabem que terão que se socorrer na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, etc... deveria inserir-se um tópico a mais e advertir:... amar é ser cúmplice do sonho alheio.


Passar a metade da vida dormindo ao lado do outro.


Há pessoas que vivem 25 anos - bodas de prata, 50 anos - bodas de ouro, 75 anos - bodas de diamante - ao lado do outro, e não sabem com que o outro sonha.


E há quem passe uma tarde, uma noite ou uma temporada ao lado de um corpo e sabe os seus sonhos para sempre.


Engana-se quem escuta o silêncio no quarto dos que amam.


Estranhos rumores percorrem o sonho alheio.


Não é o rugir do tigre pelas matas.


Não é o bater das ondas na enseada.


Nem os pássaros perfurando a madrugada.


São os sonhos dos amantes em plena elaboração.


E, se numa noite dessas, o vento da insónia de novo soprar em suas frestas, olhe pela janela os muitos apartamentos onde pulsam dormindo os amorosos.


E a noite nunca mais será a mesma!






autor/a desconhecido/a